quarta-feira, 25 de maio de 2011

Veja a seguir, alguns trechos do texto: "Tiago Santana e a paisagem humana brasileira", de autoria de Bruno Alencastro, disponível em:
http://www.cameraviajante.com.br/reportagens/tiago_santana_reportagem.htm


As imagens da literatura de Graciliano Ramos





“Nesse tempo meu pai e minha mãe estavam caracterizados: um homem sério, de testa larga, uma das mais belas testas que já vi, dentes fortes, queixo rijo, fala tremenda; uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza, sempre a mexer-se, bossas na cabeça mas protegida por um cabelinho ralo, boca má, olhos maus que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura. Esses dois entes difíceis ajustavam-se.”
(Trecho do livro “Infância”, de Graciliano Ramos)
Nesses quase vinte anos dedicados à fotografia, Tiago Santana demonstra uma sensibilidade para essa escrita com a luz comum a poucos. Abordando temas como a religiosidade, o cotidiano e a paisagem humana do nordeste brasileiro, Santana registra poesia em suas fotografias.
Em seu mais recente trabalho, “O chão de Graciliano”, o autor pretendeu “fazer com imagem, o que Graciliano fez tão maravilhosamente bem com as palavras”. Para isso, utilizou-se de detalhes, fragmentos desse cenário descrito por Graciliano.

O Chão de Graciliano é o mais recente trabalho produzido por Tiago Santana em parceria com o jornalista Audálio Dantas. O livro apresenta dois ensaios: um de texto, que Audálio Dantas está chamando de “arte-reportagem” (uma idéia de resgatar as chamadas grandes reportagens), e outro traduzido em imagens, através das fotografias de Santana.

Fotojornalimo X Arte-reportagem


Tiago Santana. Benditos.

Com relação ao fotojornalismo brasileiro, para Tiago Santana, nós vivemos num momento em que o quê menos importa é o conteúdo. “Quanto mais rápido você der uma informação, é mais importante do que o conteúdo dela”, explica o fotógrafo. E isso nada mais é, de acordo com Santana, do que “um grande retrocesso”. “Você pega uma Realidade da vida, que eu acho que foi uma revista que marcou, o cara se dedicava meses às vezes ao seu trabalho. Eu sei disso porque o Audálio Dantas, que é um jornalista da época da Realidade , disse que teve uma edição especial do Nordeste, que a redação se transferiu para o Recife. Ficou lá meses, para produzir a edição. Hoje em dia as pessoas fazem tudo por telefone, às vezes nem mandam o fotógrafo, pegam na internet. Ou seja, essa preocupação com a elaboração da imagem tem sido meio que descartada, deixada de lado”.
Uma saída encontrada por Santana para fazer esse caminho inverso, isto é, dedicar-se meses a um mesmo projeto, é através da publicação de seus livros. “Eu acho que esse livro do Graciliano ( O Chão de Graciliano ) resgata um pouco essas grandes reportagens. É uma coisa que você se dedica, que você mergulha no tema, volta várias vezes. O Audálio chama de ‘arte-reportagem'. Eu nem fico falando se é fotografia, se é arte ou não, porque essa não é a questão. Mas isso é uma coisa a se pensar. Pensar imagem, elaborar imagem, pensar mais sobre isso é importante hoje. A gente está vivendo uma explosão de imagem, para tudo quanto é lado” enfatiza o fotógrafo.


Reportagens da CâMerA ViAjANTe
 

Tiago Santana e a paisagem humana do nordeste brasileiro
por Bruno Alencastro - repórter colaborador

Um comentário:

  1. A fotografia de Tiago Santana tem um efeito de ilustração, não do imaginário, mas da realidade popular. Contraria toda a premiada estética fotográfica publicitária e relata ao mesmo tempo em que emociona. É formidável o respeito do fotógrafo para com as pessoas, talvez seja por essa atitude, que suas obras nos inspiram admiração ao invés de piedade. Ele demonstra entender o espírito da região e deixa transparecer essa sintonia nos recortes e na estética de suas imagens.
    A iluminação estourada, que produz sombras marcantes e poucos meios-tons, reforça a idéia da 'dureza' da região. Observando outras fotos, notei que ele retrata muito o olhar das pessoas, e me parece que é uma tentativa de registrar com o olho da câmera a essência do seu objeto de estudo. Deixando gravado com a luz, o que a vida deixou marcado no corpo e na alma do povo nordestino.

    Claudia Schirmbeck 09/0109651

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