segunda-feira, 23 de maio de 2011

Fotografando pessoas desconhecidas

Siga as sugestões do texto e fotografe pessoas desconhecidas

4 fotos 10X15 e index (opcional)
data para entrega do trabalho:
18/10/2011

Título do texto: Câmera
Notas de rodapé adicionadas pela professora.
Autor: Andy Grundberg
Tradução: Angela Prada

Tato, linguagem corporal e autoconfiança podem conquistar sua permissão para fotografar desconhecidos.

Perguntar ou não perguntar?
Esta é uma questão que muitos iniciantes têm em suas mentes quando se aventuram a fotografar pessoas desconhecidas. Suas preocupações não recaem exatamente sobre autorizações para uso de imagem que, geralmente, são necessárias somente quando uma fotografia é utilizada para fins publicitários. O problema é como conseguir a autorização tácita ou expressa de alguém para tirar a sua foto.
Comumente, fotógrafos amadores não sentem problema ao apontar suas câmeras para qualquer lado que desejam. Crianças, parentes, pôr do sol, montanhas, fogos de artifício, casas e igrejas não apresentam dificuldades. Mas como sair e tirar retratos de pessoas totalmente desconhecidas? O pânico geralmente aparece nestes momentos.
Pelo fato deste tipo de hesitação em fotografar pessoas fora de nosso círculo de pessoas conhecidas ser tão comum, eu faço questão, em meus workshops, de incumbir aos alunos a tarefa de fotografar pessoas totalmente desconhecidas. Suas reações iniciais são de protesto. O próximo passo dos alunos é retirar as lentes 50 mm[1] e trocar por teleobjetivas[2].
Esta é uma atitude errada, eu digo a eles. Para conseguir fazer um retrato decente de uma pessoa, você não pode estar a dez metros de distância. Ou, por outro lado, isto pode tornar o seu trabalho muito mais difícil. Eu sugiro uma lente grande angular, que os força a chegar mais perto e dá profundidade de campo suficiente para neutralizar seus pecados ao focalizar[3].
E aí alguém faz a pergunta: Eu tenho que pedir permissão à pessoa antes? É uma boa pergunta porque a resposta depende da situação.
Neste país (EUA) estamos acostumados a sermos fotografados e quando alguém nos fotografa isso não é muito problemático, muitas pessoas parecem apreciar este tipo de atenção. Desde que a câmera não esteja bisbilhotando através da cortina da nossa sala, geralmente não oferecemos resistência ao sermos fotografados.
Em outras culturas, entretanto, fotografar pode significar outras coisas. Algumas pessoas acreditam que a fotografia rouba a alma. Outras acham que é falta de educação sair fotografando sem se apresentar. Particularmente, moradores de lugares turísticos da moda, ficam irritados quando americanos ricos tentam levar seus retratos para casa como souveniers exóticos de suas viagens.
O Caribe é um local onde perguntar, muitas vezes, significa pagar.
Mas, ainda acredito que você não precisa perguntar se sabe como agir. Pense em Garry Winogrand, um fotógrafo de rua americano altamente respeitado. Será que ele teve que parar as pessoas na quinta avenida para fotografá-las? Não mesmo! Na verdade, a maior parte das pessoas só soube que estavam sendo colocadas em uma fotografia depois que a proeza havia sido concretizada.

                                    Garry Winogrand World's Fair, New York 1964

                                     Garry Winogrand: Duas mulheres e garota andando.


Garry Winogrand
Qual era seu segredo?
Eu gostaria muito de saber, pois o colocaria dentro de uma garrafa. Mas eu suspeito que tinha muito a ver com linguagem corporal. Winogrand, eu me lembro de alguns momentos em que o vi trabalhando, estava totalmente absorvido em olhar. Ele não estava preocupado consigo mesmo, hesitante ou sentindo vergonha. Como resultado, ele parecia alguém com um trabalho a ser feito.
Resumidamente, se você chegar sorrateiramente ou parecer agitado em frente a uma pessoa, é muito provável que ela preste atenção a cada movimento seu, o que irá tornar você ainda mais preocupado com o que está fazendo.
Por outro lado, se você levar sua missão seriamente e agir com confiança, você tem muito mais chance de transparecer segurança.
Minha teoria é baseada em experiências com estudantes de meus workshops. Com a tarefa de fotografar pessoas totalmente desconhecidas, eles saem e fazem isso pela primeira vez. Eles voltam para a sala de aula, animados com a facilidade da experiência e relatando como foi interessante. Mas então, porque não conseguiam fazer isso antes? Porque eles não levavam seus próprios objetivos seriamente. Mas, uma vez que tinham que fotografar desconhecidos, eles passaram a agir de forma diferente na rua. Nenhum deles teve que pedir permissão expressa para fotografar, pelo menos até onde eu sei. Eles estavam se divertindo e seus fotografados não se importaram em compartilhar isso com eles. Como tinham que chegar perto das pessoas, os estudantes fizeram amigos e conversaram. Mas não tiveram que dizer: “posso tirar a sua foto?”.
Isso me lembra de uma lição que aprendi com uma colega, professora Patty Carroll, cujas fotografias de rua são muito melhores do que as minhas. Encontramos nosso estudante “estrela” na Praça de Exeter, na Inglaterra. Ele correu até nós, muito animado. Ele apontou para um grupo de adolescentes todos vestidos com jeans rasgados, cabelos alaranjados e correntes. “Estou me preparando para tirar foto deles”, ele disse todo orgulhoso: “Eu os encontrei em um bar e lhes paguei algumas bebidas e agora somos amigos”.
Minha colega o olhou com uma expressão azeda, pegou sua Leica[4] e foi até os punks estilizados.
Sorrindo, ela colocou a lente na câmera em frente a eles e detonou um rolo de filme 35 mm em um minuto e meio. Depois ela se virou e sem nenhuma palavra voltou para onde eu estava junto com o aluno agora desanimado. Eu espero que ele tenha aprendido algo naquele dia. Pois eu, com certeza, aprendi.


Métodos para fotografar pessoas desconhecidas

  1. Seja calmo, assertivo, agressivo, mas não ameaçador.
  2. Trabalhe rapidamente, de forma confiante. Seja paciente se precisar.
  3. Não utilize técnicas furtivas – seja honesto.
  4. CHEGUE MAIS PERTO! Tente sempre chegar mais perto
  5. Fotografe durante eventos públicos.
  6. Trabalhe com amigos.
  7. Leve sempre a câmera com você – uma câmera pequena. Quanto menos equipamento tiver, melhor.
  8. Em máquinas manuais, ajuste a fotometragem antes e também o foco.
  9. Faça de conta que está fotografando outra coisa. A maior parte das pessoas não acredita que está sendo fotografada se você não está olhando para elas.
  10. Utilize lentes grande angulares – 21 ou 28 mm. Assim você pode apontar para outra direção e incluir a pessoa na fotografia, sem ela perceber.
  11. Não chame atenção. Use roupas que não sejam chamativas, se misture com o povo.
  12. Fotografe sempre na rua, prática e experiência ajudam.
  13. Em bairros violentos seja aberto e confiante, se apresente como uma pessoa amigável e inofensiva e não como alguém perigoso e ameaçador. Nestes locais, comece fotografando crianças.
  14. Se torne uma pessoa conhecida. Conheça os costumes, a linguagem, o modo de vestir. Fique amigo das pessoas antes de fotografá-las.
  15. Tenha uma atitude positiva – demonstre interesse verdadeiro pelas pessoas e suas atividades. Elogie, de forma sincera, as pessoas.
  16. Acredite no que você está fazendo; que é totalmente aceitável fotografar outras pessoas, que você não está causando mal a ninguém, mas tentando se expressar de uma maneira verdadeira.
  17. Antecipe uma ação. Se posicione estrategicamente e aguarde.
  18. Observe as pessoas e atividades na rua de forma contínua, com e sem a câmera. Desenvolva percepção da rua, do seu vai e vem.
  19. Procure relações de contraste entre as pessoas: rico/pobre, pai/filho, novo/velho.

Técnicas para superar a timidez

  1. Fotografe com outras pessoas.
  2. Fale sobre seus medos em sala de aula e com seus amigos.
  3. Se pergunte: 1. Do que tenho medo? 2. Tenho medo que alguém se sinta ofendido e reaja agressivamente? 3. Tenho medo de que outros achem que eu sou um idiota? Intruso? 4. Qual a pior coisa que pode acontecer comigo se eu tirar uma foto? O que posso fazer em relação aos meus temores?
  4. Comece a se forçar a tirar as fotos que você realmente quer. Faça um trabalho de auto-convencimento.
  5. Comece fotografando pessoas próximas; pessoas menos intimidadoras como as crianças e os mais velhos.
  6. Fotografe durante eventos públicos ou privados, onde fotógrafos são esperados e bem vindos – demonstrações, protestos, feiras, carnavais, casamentos, parques, festas de aniversário, formaturas. Nestes casos você pode facilmente fotografar pessoas desconhecidas. Você se torna parte do evento.
  7. Frente a frente: fale primeiro com a pessoa desconhecida. Peça a ele para posar. Elogie. Não chegue de forma agressiva!
  8. TIRE AS FOTOS QUE QUISER!

                              Febem, Celas Reformadas. Angela Prada, 2001.
                     Manifestação no Centro de São Paulo. Angela Prada, 2000.

Para aprender mais: http://londonstreetphotographyfestival.org/what-is-street-photography



[1] Lentes 50 mm, também chamadas de lentes normais. Para fotografarmos com lentes normais, precisamos chegar perto das pessoas (cerca de 1 metro de distância).
[2] As lentes teleobjetivas, também chamadas de zoom, aproximam o que está sendo fotografado. Assim, utilizando uma teleobjetiva podemos fotografar pessoas à distância.
[3] Para fotografarmos pessoas com uma lente grande-angular temos que chegar mais perto ainda.
[4] Marca de máquina fotográfica alemã. Uma marca extremamente respeitada na indústria das máquinas analógicas 35mm, a Leica foi a preferida de muitos foto jornalistas nas décadas de 70 e 80. É a câmera preferida do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado.

2 comentários:

  1. passei o olho em várias postagens procurando alguma que realmente me fizesse parar e fruir. Li e reli esse post algumas vezes. De primeira mão o pensamento foi: "Nossa, era tudo o que precisava...um "manual" para sucumbir a timidez no ato fotográfico."Nas leituras seguintes me detive ao mesmo questionamento: "o que é, de fato, que Winogrand coloca". Como se houvesse um tempero, uma formula para tornar um trabalho tão interessante. Mas sem dúvida a resposta é a mesma que nas outras linguagens, a imersão no seu tema. Ou seja, se você se coloca a trabalhar com pessoas desconhecidas o seu interesse se ausenta de si mesmo e vai para essas pessoas, seria o "chegar mais perto". Quanto mais próximo, seja físico ou por complexidade, mais íntimo o trabalho tende a se tornar. Ironicamente, todas as "regras" de comportamento para começar a fotografar estranhos na verdade parecem "regras" para sair da zona do EU e partir para a do OUTRO.
    Simone Menezes da Rosa - 08/40882
    fotografia 2

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  2. Tenho duas perguntas! O melhor de fotografar pessoas desconhecidas é a espontaneidade da pose. Por exemplo, "flagrar" um mendigo se alimentando com simplicidade sentado no chão ou uma mulher abrançando alguém com uma expressão sincera de melancolia e carinho, uma criança agachada entretida com um cão. Nesses casos, chegar fotografando na "cara dura" iria acabar por fazer com que essas pessoas mudassem a expressão, a pose, desviasse o olhar para mim, etc. Nesses casos não seria melhor usar uma teleobjetiva para que a distância as pessoas não percebessem que estão sendo fotografadas? Outra pergunta, legalmente posso fotografar uma pessoa qualquer e depois compartilhar meu trabalho no meu site ou no Facebook?

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