“Para mim, os cegos representam o único grupo que ousa olhar o sol diretamente nos olhos.”
Bavcar perdeu o olho esquerdo aos 10 anos, perfurado por um galho de árvore, e o outro, aos 11, na explosão de um detonador de minas com o qual brincava. “A perda da visão do olho direito veio aos pouco, com a passagem dos meses, como se se tratasse de um longo adeus à luz”, recorda. Os acidentes fizeram com que Bavcar descobrisse a realidade do “terceiro olho”
O Sr. acha aborrecido ter de responder sempre às mesmas perguntas?
Evgen Bavcar – Isso é interessante, porque sou obrigado a criar, fazendo variações, para não dar sempre as mesmas respostas. A pergunta, invariável, é: como você faz as fotos? Não quero responder a isso, porque não é importante como faço as fotos, e sim por que as faço. Não se pode perguntar a um artista, ou mesmo a qualquer pessoa, como ela faz amor. Esse é um problema íntimo. Da mesma forma, como faço as fotos é um problema íntimo. Faço, sobretudo, com um equipamento fotográfico. Que não foi criado por um cego, nem por um homem que não tinha a mão esquerda, mas por uma pessoa normal.
JU – Como o senhor consegue “ver” as fotos, depois de feitas?
Bavcar – Com as palavras dos outros. Para mim, as fotos pertencem a uma inutile beauté, uma beleza inútil. Não sou um consumidor direto, e isso me dá a força da transcendência imediata. O escritor e crítico de arte inglês John Berger comparou minhas fotos com as pinturas feitas nas tumbas do Egito. Minhas fotografias não foram criadas para as tumbas – para minha tumba sim, porque não as vejo –, mas para os olhares físicos dos outros. Nesse sentido, ligam-se à minha transcendência somente como idéias.
JU – Pode-se dizer que o senhor fotografa através dos olhos dos outros? É isso que o leva a fotografar algo ou alguém?
Bavcar – Minhas fotografias só existem para mim enquanto existem para os outros. A palavra de outros olhos me contam a realidade física de minhas fotografias. Conheço somente suas realidades conceitual e espiritual, reveladas por meu terceiro olho, com o qual eu fotografo.
Bavcar – Com as palavras dos outros. Para mim, as fotos pertencem a uma inutile beauté, uma beleza inútil. Não sou um consumidor direto, e isso me dá a força da transcendência imediata. O escritor e crítico de arte inglês John Berger comparou minhas fotos com as pinturas feitas nas tumbas do Egito. Minhas fotografias não foram criadas para as tumbas – para minha tumba sim, porque não as vejo –, mas para os olhares físicos dos outros. Nesse sentido, ligam-se à minha transcendência somente como idéias.
JU – Pode-se dizer que o senhor fotografa através dos olhos dos outros? É isso que o leva a fotografar algo ou alguém?
Bavcar – Minhas fotografias só existem para mim enquanto existem para os outros. A palavra de outros olhos me contam a realidade física de minhas fotografias. Conheço somente suas realidades conceitual e espiritual, reveladas por meu terceiro olho, com o qual eu fotografo.
http://www.ufrgs.br/jornal/setembro2001/entrevista.html
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ResponderExcluirOs comentários de Bavcar trazem à mente questionamentos muito importantes não só para o campo da fotografia, mas para o meio artístico em geral, principalmente no que diz respeito a percepção e o olhar/ver. O ato de ver é geralmente considerado algo imprescindível à percepção, porém perceber vai além de somente olhar. A diferença se torna mais clara com o exemplo de Bavcar, que embora cego é capaz de perceber as oportunidades de captação de uma imagem e seu caráter simbólico mais do que muitas pessoas com plena capacidade visual. Também é possível relacionar essa capacidade com a série de Stieglitz das nuvens, algo comum ao olhar de todos mas que foi captado por sua percepção como uma forma de traduzir em imagens materiais uma sensação ou sentimento.
ResponderExcluirOutro ponto destacado ao ler a entrevista na íntegra, é a atração que Bavcar afirma ter por coisas proibidas, trazida para responder como decidiu ser fotógrafo. Essa ideia da fotografia como um desafio também é importante para abrir possibilidades de exploração, tanto no próprio ato fotográfico quanto no resultado, a imagem em si.
Thaís Costa Oliveira Calheiros - Fotografia 1